Ultramaratona na Antártica - Viagem ao mundo gelado, enfim, cheguei lá!

Das piramides de Giza (Egito) aos Icebergs da Antártica!

Olá amigos!
Espero que tenham passado um bom Natal e uma festiva entrada de ano. Como sempre faço retorno aqui para partilhar com voces aquela que foi a ultramaratona mais dificil de minha vida: a ultima prova da edição do circuito Four Desert (4 Desertos) , prova de 250 km realizada na Antartica.
Após ter concluido Sahara (Egito), Gobi (China) e Atacama (Chile), parti para a Antartica na busca de finalizar o circuito de ultramaratona nos 4 desertos considerados os mais extremos do planeta . Para variar demorei ai quase um Mês para postar haja vista minha necessidade de fotos e a dificuldade de te-las...Bem, consegui algumas e vou postar essas mesmos ok? Depois, conseguirei mais e mostro no face (Jacqueline Terto Jacque).
Espero que gostem dessa minha aventura gelada na Antartica...
Divirtam-se.
Bjs bjs
Jacqueline Terto.

1- A exatos 2 anos:


A exatos 2 anos dei inicio a uma grande jornada intitulada;"Ultramaratona com Responsabilidade Social". Com essa perpesctiva, correria o Circuito mundial de ultramaratona nos desertos mais extremos do Planeta com vistas a propagação do Seguimento das Pessoas com Deficiências, ao qual venho militando a mais de 20 anos.
E agora, 2 anos depois de correr os 3 dos 4 desertos,  todos duríssimos, onde cada emoção vivenciada foi narrada aqui, como as dunas memoráveis de Sahara, as pedras marcantes de Gobi e o sal ardente de Atacama, retorno para narrar a ultima grande gelada disso tudo: Antartica e seu gelo abrasador!
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O Deserto em Antartica é a parte dos 4 desertos que foi nomeada pela revista Time como uma das 10 principais competições de endurance do mundo. Ali, naquela competição cada atleta deve cumprir os vários estagios no continente antártico. Para conseguir chegar ali é necessário ter concluido com exito os demais desertos. Devidamente classificada, juntamente com mais 57 atletas de cerca de 27 paises, todos nas mesmas condições de classificação igual a mim, buscando fazer parte do seleto Clube mundial de atletas que conseguiram cruzar os 4 desertos mais extremos do Planeta ( Club 4 Desert), deveriamos percorrer os 250 KM num terreno formado amplamente por neve, numa variação de profundidade que ia de alguns centimentros ate um metro e uma temperatura que poderia variar de 4 graus positivos até 20 negativos! Eu vivi tudo isso...
E por pouco não virei pinguim. Muito pouco!!!

2- Usuhaia: O fim do Mundo!

Lá em cima, ainda do avião, ao avistar a pequenina e aconchegante Ushuaia, ocorreu-me o quanto diferentes lugares e situações eu vinha encontrando a cada canto do mundo desde que iniciei o circuito.  Estive no Egito, na China, em Atacama....

Enfim cheguei ao Fim do Mundo!!!!



Quem diria que um dia eu chegaria ali em? A alguns anos atraz, nem nos mais secretos dos meus sonhos eu imaginei que seria possível. Quando que uma Nordestina, dos sertões mais secos e áridos crescida e criada em lugares quentes ( Natal, Cuiabá e Rio de Janeiro) daria conta de passar por ali???
Poie é, eu passei, vivi, corri, quase morri e consegui!!!!



Comecei a sentir o frio que me esperava. E foi com um frio (literalmente) na barriga que cheguei na primeira parada antes de enfim desembarcar na Antártica ( tão temida por mim).

Ainda pasma por ter conseguido chegar tão longe, desembarquei em Ushuaia com o coração querendo congelar, iniciaria ali minha tarefa final no circuito 4 desertos: The last desert ( o último deserto).

E agora, chego literalmente no fim do mundo: terra del fogo, Ushuaia, Argentina.

Ainda pasma por ter conseguido chegar tão longe, desembarquei em Ushuaia na tarde de 17 de Novembro de 2012. Com o coração querendo congelar, iniciaria ali minha tarefa final no circuito 4 desertos: The last desert ( o ultimo deserto).

Ushuaia ( ao sul da Argentina) seria o ponto de partida para o deserto da Antartica.
A cidade é bela e pequenina, lembrou-me várias casinhas de bonecas com seus jardins floridos.  Ultra diferente de São Pedro de Atacama que me lembrou os filmes de faroestes...(foi a primeira comparação que fiz...)

Com um mar sem tamanho a sua volta, abraçando belas montanhas e vestidas de um manto alvissimo...Neve! Muita neve. Ushuaia apresentava uma visão de sonho, mais a temperatura....hummmm....ja me incomodava.
Ja ali senti o quanto duro seria minha tarefa. Tentei adaptar-me ao máximo ao irmão frio, mais ja senti que não seria fácil.

Ali em Ushuaia fiquei hospedada na queridissima Pousada La Post Hotel.

Que lugar lindinho!!!!
Tudo ali foi muito bom. Pousada limpissima, arejada, aconchegante e com precinhos ótimos ( o melhor dali pois em Ushuaia tudo é uma fortuna). Recebida carinhosamente pelos amaveis Lucas e Flor e os seus pais Mirian e Hector tive ali uma acolhida que foi de suma importancia para o que me esperava na Antartica. Ao saber de minha competição todos se mobilizaram em acolher-me dando muita força e cuidando para que eu me sentisse em casa e pudesse partir para uma competição com muita força e coragem.

Este é o Lucas. Ainda no Brasil fiz contacto com ele e não me faltaram todas as informações que necessitei. E lá chegando comprovei que tudo foi exatamente conforme informado.

Enquanto aguardava o embarque para Antartica, com orientações do Lucas, pude conhecer melhor a pequena Ushuaia e em menos de 3 horas andando lentamente. Fiz ainda 3 treininhos fabulosos por alguns de seus pitorescos pontos: Glacial, Beira Mar e Parque da Cidade.




Dali embarcariamos num Navio de expedição onde viajariamos 3 dias pelo famoso extreito de Draike, atravessando todo oceano atlantico.

3- Apresentando-se para a competição:

Lá em Ushuaia, ponto de concentração de todos os atletas junto com a organização da prova,
todos os 57 atletas dos vários lugares do mundo, reuniram-se para o que seria o congresso técnico 1º, uma vez que embarcados no návio haveria um 2º congresso para verificação final de equipamentos.

Ali seria apenas para assinar as devidas autorizações, verificação de documentos médicos, etc.. No navio seria a verificação de equipamento, e alimento, ou seja, se por ventura faltasse algo dos itens obrigatórios, F%#@u, pois não haveria onde sair para comprar (só se mergulhasse e tentasse a sorte com Netuno...). Este momento é sempre bem tenso para mim, pois em todas as edições faltou algo...rissosss ( em Sahara não aceitaram minha comida), em Gobi a pastilha de sal e em Atacama a bendita touca extra ( no caso a minha lindona do meu querido FLAMENGO). Mais enfim, esperava que desta vez NADA faltasse pois estava com excesso de bagagem!!!!!

Assinando a confirmação de todas as informações prestadas bem como as autorizações para o que fosse necessário.

O médico  da competição me liberando após confirmar a documentação oficial de meu médico querido Drº Alexandre Carvalho (Clinica de Medicina Esportiva Dr. Alexandre de Carvalho). Ele ficaria roxo de orgulho se estivesse lá!!!! Mais sei que daqui mesmo já fica!!! Ele é um amor de pessoa e o melhor "cardio" do mundo!!!!!!!!! Se não, meu coração já tinha pifado...rissossssssssss. Afinal, foram tantas as emoções...já diz o meu amado rei Roberto Carlos!

Reencontrando amigos:

Com o querido amigo brasileiro Jeison Duarte:

Ali no Congresso Técnico, reencontrei o querido amigo Jeison (brasileiro que mora no Chile). Estava ali também para fechar o circuito. Neste ano ele fez todos os outros 3. Se tornaria o primeiro brasileiro a correr os 4 desertos em um ano. Desde que nos conhecemos que nossa amizade tornou-se algo de vida, pois não mais nos perdemos, independente da distancia de moradia. Ele hoje figura na minha relação pessoal como um dos meus grandes amigos. É um cara de tirar a bandana (ou o chapéu com queiram). Coração de ouro, bonissimo, generoso e um guerreiro de dar orgulho a qualquer brasileiro. Brasileiro de Porto Alegre, desde muito cedo foi a luta e venceu a vida com bravura. Pena que para isso tenha precisado se mandar do Brasil....

Também reencontrei os queridos Vicente ( Espanhol) e Cristian ( Argentino), aliás , é o segundo Argentino gente boa que conheço!!! No Brasil tenho um queridíssimo Cristian, que também é Argentino e que cara espetacular!!! Um ultra querido amigo...

4- Embarcados: Rumo ao the last desert ( ultimo deserto)!

Com a primeira parte dos procedimentos regulamentares concluidos, embarcamos no Navio de expedição cientifica PLANÍCIUS. A tripulação era formada por pesquisadores da Antática formado por biólogos, físicos, químicos, entre outros. Teríamos a rica oportunidade de compartilhar suas descobertas...pena que meu ingles não me ajudou em nada.....

Também recebemos todas as instruções de como proceder em caso de emergencia, etc, etc...

Ali viajaríamos por 3 dias até a primeira etapa da competição, e seriamos alojados durante toda a prova.

                                    O poderoso "quarteto em si  " Vicente, Jeison, Cristian e eu. 

Congresso técnico 2:

Já devidamente acomodados, iniciou-se as verificações finais de equipamentos e alimentação. Agora era a hora final de tudo estar a contento...caso contrário...não teríamos autorização para a largada. Imagina chegar no meio do atlantico e por falta de qualquer item você não poder correr???? É motivo para se jogar no mar né não???? Seria literalmente nadar, nadar e morrer na praia ( ou algo similar a esta idéia...)!!!! 

DEUS ME LIVRE!!!!!!!

Olha ai minha expressão tensa ao apresentar os itens obrigatórios!!!! Ao meu lado, estava a querida Indiana Michelle Kakade (dividiu comigo o camorote por toda a competição). Não falamos um palavra do idioma da outra, mais nos ajudamos o tempo inteiro. Como eu buscando o titulo de primeira mulher da América do Sul a conquistar os 4 desertos, ela se tornaria a primeira mulher da India. Ali na checagem, ela ia me ajudando a apresentar os itens solicitados. Como tudo é em ingles, ela entendia e quando eu não conseguia saber o que estava sendo pedido ela me mostrava. 

Uma fofinha essa indiana não é? Beijos querida Michelle. 

Ufa!!! Tudo certo!!!!! Dessa vez não faltou nada e eu passei com louvor! Alias, tinha muito mais do que foi solicitado!!!!! Não quiz arriscar de jeito nenhum!!!!! Aliás, os queridos Cristian Nach, Seabra Santos e Luiz Lacerda NÃO PERMITIRAM que faltasse nada!!! Ficaram firmes para que tudo fosse adquirido a contento.

Devidamente credenciada para a prova!!!! Meu Deus...quem diria.... A felicidade daquele momento ficara para sempre em minha memoria...( em pensamento não pude deixar de mais uma vez agradecer aos queridos Cristian Nach, Seabra Santos e Luiz Lacerda, os mais presentes e maiores responsáveis por eu estar ali).

Aquela era a fase final para o grande momento!!!! ( e o melhor: eu não precisaria me jogar no mar e pedir ajuda para Netuno!!!) rissosss

Olha ai eu toda felizona com minhas coisinhas!!!! Agora sim, alivio e apreensão num só sentimento...Dá para entender????

5- Enfim, rumo a Antártica.

A partida:

Ao final daquela tarde, nosso navio "alçoo voo", ops, levantou ancora rumo ao destino gelado nos mares do sul que nos levaria até a  magnifica Antártica. Ao sentir o suave balançar das ondas, meu coração se encheu de emoção, e como não poderia deixar de ser, lagrimas quentinhas aqueceram a minha face. Aquele pensamento de agradecimento a Deus, Jesus, Maria mãe querida de todos nós e a querida espiritualidade maior, com fé e força: para frente e avante...a todo vapor!!!!!!

A viajem de ida:

Todos devidamente credenciados e enfim mais relaxados, partimos para uma "excurção" no navio...

Como sempre, o "quarteto em si" Cristian, Vicente, EU e o Jeison, e na 2ª foto eu " apanhando do forte vento gelado!!!!! A coisa por ali ja estava ficando fria!!!!! Ali nada esquenta! Nadinha de nada....

No mar da Antartica:

Navegamos ao longo do canal de Beagle, passando pelo famoso estreito de Drake que marca a convergência antártica onde uma barreira biológica permite que as águas quentes do Norte deem lugar as frias águas polares. Ou seja, é a junção do oceano pacifico com o oceano atlántico! Não é um espetáculo poder passar por um lugar assim tão marcante do adorado planeta terra?

Neste trecho, a maior recomendação e deitar e dormir. Por suas águas torbulentas a possibilidade dos enjoos é muito grande. 

Neta de pescadora que orgulhosamente sou, não tive um enjoo sequer... Graças a Deus!!! 

Ah, mais tive a honra de contar com as preciosas instruções do querido amigo Bareta (da solo) que me foi apresentado pelo não menos querido amigo Mauro (da OnTheRocks) que generosamente tirou um dia em sua agenda para me dar todas as instruções necessárias a minha permanência na Antártica. O Bareta é um grande conhecedor da Antártica. Vive por lá e é quase um pinguim!!!! Um queridíssimo!!!!

                                                          

                                                         Passagem pelo estreito de Drake

 Ao antardecer do 2º dia de viajem, finalmente chegamos ao território da Antártica.

As vastas águas daquele universo começaram a dar lugar as belíssimas estátuas de gelo. 

O gelo glacial que parece ser azul, na verdade ao ser visto ao vivo perece muito mais branco do que é. Quase cinza... Só que...parece, apenas parece...

Não se engane, ele é mesmo azul!!

Doideira não?

A visão é dos sonhos..

Naquele momento me lembrei da fala do chileno Pablo Neruda que diz em seu poema "Antártica"que ali é a "solidão sem terra e sem pobreza" . Era verdade...

Já era noite, mais nem percebíamos, pois ali não anoitece. O sol brilha ofuscante, embora gelado.

6- Antártica, o paraíso branco.

Últimos momentos para a largada oficial do The last Desert:


Fez parte de minha preparação para a ultramaratona de Antártica, "devorar com avidez" todas as informações sobre aquele lugar...Mais, ao chegar lá, de verdade, pareceu-me que nada me preparou o suficiente para estar ali...
A sensação era de pavor...o frio que me chegava na pele penetrava em minhas entranhas com a força de chicotadas...
O ar me queimava as narinas...
Iniciei ali um combate fervoroso com poder mortal (para mim) do frio antártico.

Preparando para o desembarque rumo a primeira etapa:

O navio ancorou próximo a primeira base de onde largariamos para a primeira etapa da competição. Dali já podíamos ver bem de pertinho o imenso deserto de gelo tão falado, pensado e respirado por mim nos últimos meses.

A paisagem é incrível...Uma selva virgem de neve, gelo, montanhas e águas.

AS RECOMENDAÇÕES SOBRE A HIDRATAÇÃO CONSTANTE, MASCARA DE ROSTO E LUVAS  eram inúmeras vezes repetidas. Por ali não se brinca...Uma queimadura na córnea por raios ultravioletas podem causar a tal cegueira da neve mais rápido do que a velocidade da luz..e, um congelamento de extremidade como dedos ou nariz levam a uma amputação fácil!!!!!!

Eu, particularmente, não precisava daqueles conselhos ( seria ate dispensável ficar falando naquilo o tempo inteiro), pois sabedora de minha total incapacidade de suportar frio, havia levado para a competição 5 milhões de roupas!!!! Mais, la no fundo de minha alma, com cada repetição dessa, meu corpo se enrigecia mais ainda...E aquela sensação de gelo na barriga se alastrava pelo corpo inteiro!!!!

 Meu Deus......que situação!!!!!!  Será que meus 5 milhões de roupas seriam suficientes???????

7-A competição:

                                             

Após o comandante da expedição dar as ultimas instruções, começamos , pouco a pouco o desembarque rumo a grande viagem no grandioso solo gelado.

E enfim, pela primeira vez em toda a minha existencia, eu coloquei a mão no maravilhoso solo do mundo gelado. Que emoção me tomou a alma....

Enquanto isso a outra parte da organização da competição finalizava os preparativos para a primeira das 7  largadas que teriamos ao longo dos 6 dias que envolveria a competição. 

 Aos poucos, todos os atletas vão desembarcando e acabando de se preparar para a largada

Os fortes ventos locais contribuiam para uma sensação térmica mais baixa ainda.

Apesar de estar com quase 100 pessoas (entre atletas, organização, staff e tripulação do navio) naquele frio medonho, a sensação de solidão e desamparo me envolveu absurdamente...

Mais o manto sagrado de minha Pátria estava ali por que EU estava ali...então, EU teria que honra-la! E o motivo que me levou ali esperava de mim garra e coragem...não podia decepcionar os meus 236 alunos com deficiências do Programa para pessoas com deficiências da Vila Olimpica da Maré lá no Rio de Janeiro.

                                                             Vestida para VIVER!!!!

Vestida com todos os minhas 5 mlhões de roupas ( 1ªs, 2ªs, 3ªs, 4ª , 5ª e 6ª peles) além das 3 luvas, 3 balaclavas e outras tantas mudas na muchila, estava pronta para o que seria meu maior desafio: vencer o gelo! Detalhe: Cada roupa dessa eu deveria usar uma por vez..., mais , sendo eu quem sou, não quiz arriscar. Apesar do peso ultra extra, ainda assim se eu tivesse outras teria utilizado pois não foram suficientes para aquecer-me como deveria....

                                      Esta sou eu, com o numero 49 minutos antes da largada, aguardando com o coração sofrido de frio, e a sensação de determinação ferrea para não sucumbir...o que naquele momento pareceu-me muito próximo.

Todas as roupas utilizadas de uma só vez, mais o peso dos equipamentos na muchila contribuiram para uma instabilidade emocional profunda. Começo a me preocupar violentamente, pois meus pés estavam congelando...Não consegui sentir um pingo de calor apesar de estar vestida com toda aquela roupa. Sem contar que devido a forte emoção do momento que me tomava a alma, fiquei tão travada de frio que nem conseguia manusear os ziperes, amarrar os tenis...olha...uma doideira!!! Não teve psicologia que me tranquilizasse ali.  Para completar o encaixe da bolsinha da frente, (onde tinha todas as comidinhas rápidas) não encaixava!!!! Fui socorrida pelos queridos Geison e Cristian, que também estavam as voltas com suas grossas luvas e por isso mais dificil qualquer tarefa...
Com lágrimas nos olhos, desesperada, naquele momento pensei que nem em 100 anos eu daria conta de aprender viver ali.
E viva os pinguins viu?
Mais, no fundo de meu coração roguei a Jesus que pelo menos conseguisse aguentar mais os 6 dias....Era somente o que eu precisava...nem um dia a mais...Nada de viver ali por 100 anos, nem por um mês...
6 dias!!! Apenas mais 6 dias....

A largada:

Na largada do primeiro dia, todos os demais atletas estavam com apenas uma ou 2 primeiras peles e pouquissimas coisas em suas muchilas. Apenas o essencial...
Apesar de ter treinado ferreamente (estava em minha melhor forma desde que comecei o circuito), tentei largar o melhor que pude, mais não consegui fazer a largada que imaginei. Ao invés de minhas costumeiras passadas seguras, eu apenas conseguia andar com passinhos miudos...Minhas pernas não queriam obedecer ao comando de: correr!!!

Naquele momento senti na hora que poderia ali ter grandes complicações térmicas...

Procurei não pensar na corrida (abortei a missão "competir" na hora, do geito que eu estava agora não era para isso), mais em como meu corpo estava reagindo aquela extrema temperatura tão adversa a minha natureza fisica. Lembrei do amigo Farinazzo que me envio uma mensagem onde disse-me que o segredo era não sentir calor, tinha sempre que estar com uma sensação de frio, então eu deveria estar ÓTIMA pois calor ali eu não senti jamais!!!!Só que não estava apenas sentindo frio né? Eu estava congelando!!!!! E ainda tinha as lentes de meus oculos que logo começaram a embaçar ( lembrei do amigo Mário Lacerda que me disse sobre isso e de seu apuro na vez que tentou correr na neve...) ai, ai, ai...
Precisava observar se aquela montanheira de roupas serviriam para alguma coisa....5 camadas de camisetas e calças, uma jaqueta, 3pares de luvas, 3 balaclavas, 5 pares de meias (num tenis 39/40, onde meu numero é 37)... Na muchila, além dos equipamentos de sobrevivencia obrigatório, alimentação e...mais roupas ( vai quê.......né não?!?!!!!!)

Por ter estudado bastante sobre o frio e suas consequencias, entre outras coisas li sobre a tal termogenese antecipatória (quando nossa temperatura básica pode subir quando nos concentramos para qualquer atividade).
Precisava me concetrar...fervorosamente!!!!

Era hora de fazer valer os inúmeros exercicios mentais realizados com as terapias alternativas de meu querido guru e personal terapeuta Luiz Lacerda e também fazer valer meus conhecimentos de psicóloga esportiva! Afinal somos profissionais e trabalhamos duro para eu chegar ali.

Para qualquer outro ser humano, imagino que seria muito mais rápido a adaptação por ali. Para mim, não consegui em nenhum momento sentir um mínimo de conforto térmico...nem um pouquinho que fosse... Me adapto bem em qualquer situação, mais no frio realmente não consegui. Por isso mais preocupante porque sou da filosofia de ser heroina VIVA e com saúde. Esta história de morrer em combate não é comigo! Pé arrebentado, amputação, morte subita, nã nã nãããããããããã! Quero ser sempre um bom exemplo de pessoa que vai e consegue, COM VIDA E SAÚDE!!! Se por algum momento perceber que algo mais grave pode acontecer, com certeza será hora de recuar...

Então, a diferença estaria na minha vontade férrea onde teria que sufocar a ansia que aquela temperatura me causava. Bloquei todas os pensamentos negativos e segui com muita dor de frio, porém firme na determinação de alcançar o fui buscar ali: concluir os 4 desertos mais extremos do planeta. Afinal, não podia esquecer jamais de meus queridos alunos, exemplo de força e persistência que eu conheço tão bem!

E com esse pensamento, realizando um passinho por vez (graças ao Luiz que ensinou-me a andar, coisa bem dificil para uma corredora que na maioria das vezes corre entre os primeiros colocados) sem parar para nada, uma vez que para mim, parar ali seria a morte, segui adiante!

Naquele dia fui uma das ultimas pessoas a completar a etapa. Mais o fiz!!!


Com orgulho e determinação cruzei a faixa e pude enfim estravazar a emoção que aquele primeiro dia me causou! Afinal, só eu sabia o que tinha passado por todo o tempo que durou a prova: foram as 12 horas mais dificies de minha vida e a mais longa também...Por muito pouco a prova não terminou para mim logo no inicio. Foram muitas as lágrimas e por vezes até desespero e medo de não coseguir aguentar tanto frio...aquelas 12 horas me pareceram 1.000 anos!!!!!!

Mais amanhã seria um outro dia! Sempre é!!!!!!!!!

Na Antartica faz frio a qualquer tempo e hora, a mim, especialmente nos pés e mãos. Mais, justiça seja feita, mesmo sem conseguir sentir um calorzinho que fosse, na barraca era bem menos...
Também com a companhia dos queridos Jeison, Cristian e Vicente a noite ficou mais aconchegante!!!! Juntos, dividimos mais um momento de pura emoção.

E naquela noite, sob o explendor celestial, com a companhia dos adoráveis pinguins adormeci confiante por um novo dia!

A prova:

Uma alma nordestina desbravando a Antartica!

Depois da etapa anterior, onde eu pude provar do sabor amargo (gelado) daquele mundo branco, fiquei a imaginar o que realmente leva uma pessoa a passar por isso...Penso que os motivos são muitos e muitos...cada um tem seu desejo, seu conflito, sua ambição.
É assim, tanto para voce quanto pra mim...

E o que fazemos com isso? Ali, naquele lugar, correndo com atletas de quase todo o mundo, atletas tanto profissionais, que vivem da corrida, que tem seus patrocinadores certos, quanto atletas com menor compromisso profissional porém com seus proprios compromissos pessoais eu vivi como nunca um turbilhão de emoções que nunca havia vivenciado. Tudo me foi muito inédito. TUDO!!!! Isso no sentido mais doído (de dor) da palavra...

Com o coração orgulhosamente nordestino, busquei na profundeza de minha alma o meu motivo mais real e com ele a força necessária para seguir adiante. Por alguns instante tive duvida se conseguiria...
Nada me aquecia...tudo me congelava!!!!
Lembrei do querido Cristian Nacth, que bem pouco antes de minha partida, respondeu-me a um email me dizendo o seguinte:...."Jacqueline, calma! Nada lhe parou até agora. Voce foi para o Egito, para a China e não vai ser a Antartica que vai lhe parar..."
Percebi que até as lágriams que antes me aqueciam a face agora também estavam congelando a medida que eu chorava...nem chorar eu podia mais!!!!!! Então eu tinha que engolir o choro...literalmente!!! E não parar.......

Uma nordestina, cabra da peste, saida das dunas de Ponta Negra, da Cidade do Sol estava ali desbravando a Antartica, o mundo do Gelo!!!! Que precioso paradoxo não???

Bem, no meio dessas profundas reflexões, na vastidão daquele solo branco, lembrei do querido amigo Seabra, e me veio na lembrança a belíssima mensagem que me enviou antes de minha partida, onde entre emocionado e apreensivo, me encentivava para a prova sem descuidar de todas as recomendações que somente um bom amigo sabe fazer. Mais o que mais me chamou a atenção foi ele me lembrar da força de um nordestino e do quanto podemos ser criativos em situações das mais adversas, a exemplo do que foram capazes de realizar por ocasião da 2ª guerra e que poucas pessoas tem conhecimento...o Seabra é um deles!

Criativo? Sim, criativo...
Como ser criativo aqui no meio da neve, lutando febriemente para não congelar????

Foi quando o meu espirito "lampadinha"  (assistente do Profº Pardal) pareceu acordar:

Gente, como eu não pensei nisso antes????? Claro!!!!! Estava faltando algo valiosissimo ao meu coração que com certeza faria a diferença: minha Bandeira nacional!!! Meu manto mais sagrado e minha fiel companheira em todos os desafios realizados ate hoje!!! Ela sempre esta comigo...

E, claro, ela estava logo aqui, bem ao alcance da mão, guardadinha na muchila, como sempre faço em todas as competições: corro toda a prova com ela na muchila, e somente no ultimo estágio tiro e corro com ela pendurada ate cruzar a ultima linha de chegada.



Então era isso, desta vez seria diferente: ela correria comigo exposta por toda a competição, e, naquele momento tive a certeza que conseguiria completar o ultimo deserto!





E foi assim, que daquele momento em diante eu retomei o desejo e a coragem (que estava mingada com tanto frio), mesmo sentindo o frio imenso, de voltar a competir. Eu sabia o quanto bem treinada eu estava. Não, não seria um "friozinho" daqueles que me deixaria fora de combate...

Sabia que seria duro ficar entre as 3 mulheres naquela altura da competição (colocação planejada de acordo com minha condição fisica), mais podia melhorar muito minha colocação.

E seria o que eu faria a partir daquele instante...

Com gelo, neve ou nevasca EU, única mulher da América do Sul, representando a minha adorada Pátria Brasil ainda estava na prova!

Agora, devidamente amparada e agasalhada pela minha nação, ressurgi das cinzas, ou das neves! A minha "Fênix" ali ressurgiria e seria de gelo!!!!




E estamos chegando...

Da licensa que o Brasil quer passar!












A cada lado que a Bandeira tremulava eu a ouvia dizendo baixinho para mim: estou do seu lado















Ali, o manto sagrado me conduziu, me aqueceu, me protegeu...
coladinha comigo ajudou-me cada minuto...











Quando estava atraz, estava empurrando-me...
Quando estava a frente, estava puxando-me...
Quando estava ao lado, segurava na minha mão...
Quando estava na cabeça, me protegia



E ai, o Brasil passou, passando!

E pouco a pouco as colocações foram subindo...

Afinal, o Brasil inteiro estava correndo o Último deserto!!!!

A Chegada:

Com todo o "perrengue gelado" que passei naquele maravilhoso mundo branco, conseguimos finalizar o Circuito Four Deserts.

 

TOP 5

Com a nossa tradicional determinação, sempre com muita responsabilidade pela vida, chegamos ao final da competição e conseguimos fechar com a 5ª colocação entre as mulheres e 28ª no geral. Melhor ate do que em Sahara!!!! Pode?????

É, pode....

Afinal, como digo sempre: tenho os melhores exemplos do mundo a serem seguidos. E não posso desaponta-los tão facilmente...

Essa medalha representa a vitória de uma mulher nordestina, guerreira, brasileira!!!!

Totalmente aversa ao frio, foi lá e desbravou a Antártica.

Na minha simplicidade, orgulhosamente estou feliz por ter conseguido o que até então seria ultra dificil. Precisei suportar situações das mais extresantes, tanto fisica quanto mental.

Mais , mais que tudo, precisei vencer meu próprio medo...e como tive medo!!!!

O compromisso junto ao Seguimento da Pessoa com Deficiência, minha causa maior, ao qual sou militante a mais de 20 anos, e, particularmente ao Programa para pessoas com Deficiências da VILA OLIMPICA DA MARÉ, além das inúmeras questões sociais que nos chama a consciência por ações e atitudes melhoradas, foram os motivos que me levou aos 4 desertos mais extremos do Planeta terra.

Agora, depois de tudo, se precisar eu vou até a Marte...ainda quero correr por lá!!!! 

Até lá, por aqui, definitivamente, o Brasil e toda a Amérca do Sul, tem a primeira mulher que realizou tal feito.

O título é de todos nós, brasileiros e brasileiras com ou sem deficiência que não desistimos jamais!

E, de agora em diante, o seleto Club Four Desert, tem em seu quadro mais uma integrante, estando hoje figurando entre as 20 mulheres em todo o mundo que conseguiu essa realização. 

Club Four Desert!

E antes de finalizar, como sempre faço, não poderia deixar de falar deles...esses fofos!!!!!!!!!

O rei do pedaço....

e seus vizinhos preguiçosos!!!!

Não são lindos de viver???????

Tudo figurinha fácil no belíssimo mundo gelado!

Finalizando:

Bastante emocionada, finalizo esta postagem, agradecendo de todo o meu coração a todos que nesses ultimos 2 anos compartilharam comigo dessa odisséia.

Foram 2 anos de trabalho fervoroso para conseguirmos realizar esse Projeto com toda a responsabilidade que se deve ter.

Não realizei sozinha. Jamais conseguiria...

Nunca teria podido realizar esse projeto se não existissem algumas pessoas tão queridas ao meu coração...e tão generosas comigo.

Nos bastidores de minha corrida, essas pessoas (principalmente) fazem a diferença entre o acontecer e o desistir...

No topo dessa lista está o adorável e incasável "mecânico de gente" LUIZ LACERDA, nosso Terapeuta Corporal e companheiro de todas as jornadas.  O nobre, honrado e querido amigo SEABRA SANTOS, e, uma das pessoas mais generosas de alma e coração, sensível e amoroso que tive a benção de conhecer e ser por ele acolhida em minhas façanhas CRISTIAN NACTCH. Numa primeiríssima instância VOCES fizeram a diferença! Sem, voces, definitivamente eu não teria ido na esquina!!!!! Imagina nos 4 desertos do mundo?!?!?!!!!

Lá na Antártica os queridos amigos JEISON DUARTE (Brasil/Chile), CRIThIAN (Argentina)  e VICENTE (Espanha), estar com eles nas provas foi parte de minha salvação!!!!

E no finalzinho do circuito, neste ultimo deserto, tive o prazer e a grata alegria de conhecer os queridos Carlos e Barbara ( Diretor de percurso e sua adorável esposa). Que gracinhas de pessoas e como foram bondosas comigo!!!

Seguindo a lista, tenho a honra de agradecer aos amigos Carlos Dias, Drº Alexandre de Carvalho (Clinica de Medicina Esportiva Drº Alexandre de Carvalho), Luiz Guilherme (Maknew), Danilo (MUNDO CORRIDA), Mônica Otero, Mário e Eliana Lacerda, Bareta (Solo), Mauro Chasilew (OntheRocks), Luciana Rocha (Gerente da VOM), Amaro Domingues (Diretor da VOM), Jose Fantine (Diretor da VOM), Sandra Garcia ( Coordenadora projeto Educar) Clara Sodré, Monica e Cica (Instituto Illeca), Cacá (Personal Studio), Drº Rui Esteves ( meu amigo e dentista querido)Sr. Justo (Half Done), Shirley Thompsom, Mariana Bittar, Ana Mota, Rosanea Garcez, Patricia Cortes, Paola Costa, Antonio Bezerra, ao queridissimo Jefferson Maia, Michelle Domiciano, Joana Medeiros e todos os irmão da Associação Espirita Franscisco Candido Xavier,

A todos os amigos, colegas e conhecidos do mundo da ultramaratona, do trabalho, dos projetos, da vida...

Aos familiares próximos e distantes...

A mamãe, a papai, meu irmão, minha sobrinha...

A espiritualidade maior e amiga,

Cada um, do seu modo, participou comigo dessa história.

Ultra Obrigado!

bjs bjs

Jacqueline Terto.

Retorno em breve com as novidades!