sábado, 7 de fevereiro de 2009

3 casos ULTRAS: gente com e sem deficiência que FAZ!!!!

Olá meus amigos. Estive bastante atarefada esses dias e também me recuperando da Ultra BR135 ( 217 km de montanhas já citado na postagem anterior) e não pude fazer minhas "escritas" por aqui. Porém estava morrendo de vontade de contar 3 belas histórias ULTRAS ULTRAS ULTRAS!!! De acordo com a proposta deste blog em trazer sempre assuntos que envolva o seguimento das pessoas com deficiências é com muito prazer que trago hoje a história de 3 pessoas ultramaratonista que conheci no meu mundo de ultras maratonas. Os casos abordam situações bastante interessantes...e as pessoas que fazem essas histórias mais interessantes ainda! Devidamente autorizada a contar essas histórias o faço agora.
Vejam por vocês mesmo:
1º Caso: Maria Rita: a ultra coRRetora que faz...

Conheci a ultra Maria Rita na ultramaratona de 24 horas dos fuzileiros navais no Rio de Janeiro em dezembro de 2008. No mês seguinte ( agora em Janeiro de 2009 ) nos reencontramos na BR135 ( Minas Gerais ) onde estreitamos amizade. E foi delicioso descobrir que nossa coleguinha ultra já teve sua “iniciação” junto com a pessoa com deficiência. Na véspera da competição falávamos sobre as dificuldades que nos esperava para a prova ( e que dificuldades..) quando tocamos no assunto de quem fazia o que, e porque etc e tal. Daí descobri que a “mana” (como falam os manauaras) durante seus treinos na Fundação Vila Olímpica de Manaus conheceu uma turma de pessoas com deficiências que ali se reuniam todas as manhas para a prática de atividade física. Antes de falar de sua ação faço um aparte para sua historia pessoal:

..." a vontade de correr começou por conta de uma depressão. Meu marido morreu em um sinistro de transito...". Desempregada e com filhos pra cuidar Maria entrou em profunda depressão e numa noite decidiu se matar, mas antes resolveu caminhar pelas ruas da cidade, onde caminhou durante duas horas, e sem se dar conta, cansada, resolveu adiar a morte para o dia seguinte. Ela conta que neste dia, depois de muito tempo, dormiu como um anjo e acordou renovada.
Sentindo-se melhor, Maria desistiu de acabar com a própria vida. Decidiu que passaria a caminhar, dai passou a correr e hoje nas horas de folga (Ela é CORRETORA além de CORREDORA) é ultramaratonista. Atualmente ainda encontra tempo para cursar Educação Física em Manaus.
Bem, voltando ao "debut" junto a pessoa com deficiência, ela conta que encontrou nesse grupo da Vila Olímpica um grupo que lhe deu apóio e dai passou a treinarem juntos. Maria se apaixonou pelo atletismo e especialmente em lidar com deficientes visuais, tanto que passou a ser guia de uma das atletas.
Porém o inicio foi cômico ( pra não dizer trágico)...

Maria Ritah conta que o trabalho com deficientes visuais é " lindo e enriquecedor ". Mas a primeira corrida de 10km em que ela foi guia de cego, ela conta que não sabia o que fazer com a "cordinha" como diz ela ( pulseira guia ). Por não saber conduzir a atleta deficiente, a atleta caia constantemente e batia em em tudo que tinha pela frente ( de poste de luz a árvores) alem dos inúmeros buracos. “Quando tinha um buraco na rua, eu dizia pra ela que tinha que desviar, só que já era tarde demais e ela caia...” "Ou então eu desviava naturalmente e esquecia dela...." "Aquilo me dava um desespero só!!!!"
Mais Maria Rita não desistiu e foi a luta aprender. Aos pouquinhos já consegue lembrar que a pessoa cega aprende pelo toque, e pela orientação espaço temporal verbalizado pelo seu guia. Além do mais, para ajuda-los é necessário conhecer bem o manejo e saber exatamente qual a sua necessidade pois se não souber certo em vez de ajudar acaba por atrapalhar. Além de muito amor, determinação ( que ela tem de sobra) para fazer um trabalho de motivação de modo que esta pessoa cega ( ou qualquer outra deficiência ) .." possam sairem de suas casas e pratiquem o esporte igual a qualquer pessoa que vê." Transcrevi na integra boa parte do que ela me relatou...Com suas palavras singelas a nossa coleguinha nos encanta pela vontade de fazer. Com coragem e fibra! E de gente assim que precisamos!!!!!


Essa ( quase) loura simpatissima é a ultra Maria Rita: coragem para enfrentar o desconhecido! Determinação para aprender a lidar com ele!!!!


É isso ai "mana"!!!!! Orgulho de você!!!!

E.T: Quem quizer comprar um imóvel lá "pras bandas" da Manaus procurem a nossa Maria Rita...tenho o email dela....!!!!
2º caso: Norma Bastida, ultra canadense: 7 maratonas, 7 países...em 7 meses!!!!
Ainda nas vesperas da ultramaratona da Brazil 135 2009 correu um email do organizador da prova ( Drº Mário Lacerda ) procurando uma instituição que pudesse ser visitada por uma atleta canadense. Essa atleta além de visitar a instituição teria uma quantia para doar. Porém teria que ser na região da corrida ( ou seja lá em Minas Gerais). Vi o email e fiquei com pena de não poder indicar nenhuma das nossas instituições pois aqui no Rio o que não falta é instituição precisando né não? Ainda tentei argumentar com o Mário, mais este disse que a atleta canadense so faria no formato ja falado. Tudo bem então. Achei meio demais, mais procurei entender, afinal ela devia ter lá seus motivos, e esqueci do fato. Meses depois, no dia do pré race meeting ( seminário pre competição ) lá estava a "tal" atleta. Elegante, porte de atleta de resistência, e... uma graça de pessoa!!! Agradebelíssima!!!!!Era a Norma Bastida, atleta que estava rodando o mundo levantando verba para instituições de pessoas cegas. Lógico que dei um geito de ir falar com ela né? Mesmo sem saber falar um "helloo" ( meu ingles é vexatório, pra não dizer que não existe )Catei um colega ultra que sabia um ingles básico e arrastei sem maiores explicações. Estava eufórica para conhecer a historia daquela minha concorrente. E que prazer foi esse encontro!!!!! Bem, sua história se resume no seguinte: Norma, mexicana naturalizada canadense tem um filho com cegueira de origem desconhecida. Na busca de recursos médicos para tratamento especializado deu de cara com as inumeras dificuldades institucionais bastante conhecida nossas por aqui. Por ser atleta de maratonas resolveu que usaria tal recurso para angariar fundos para algumas dessas instituições. Resolveu correr em 7 meses 7 maratonas em 7 paises. E o Brasil entrou na sua lista. Não é fofa??? Veio ao Brasil correr a ultra Brazil 135 e faria sua doação a instituição local ( esse é o acordo junto aos patrocinadores por isso a exigência ao qual eu havia achado "demais" ). A felizarda instituição contemplada foi a AADV ( Associação de Assistência aos Deficiêntes Visuais de Poços de Caldas). Tive a honra de parabeniza-la e falar um pouco de nosso trabalho por aqui, ao qual ela ficou encantada e disse ser uma pena seu pouco tempo no País pois adoraria dar umas voltas para conhecer melhor. Presenciei o momento da entrega da doação e claro: me emocionei horrores!!!!!! Os representantes da instituição quase que não acreditavam no que estava acontecendo. Foi barbaro!!!! Eis as fotos:










A Ultra Norma é essa ai de calça quadriculada. Não é uma graça????
3º caso: Terry Greeneley, paraatleta ultra. Primeiro atleta com deficiência fisica a fazer uma ultra com alto grau de dificuldade: Junglemarathon!!!!!
Bem, este caso é maneiríssimo!!! É meu maior prazer: encontrar nas minhas ultras andanças um atleta com deficiência participando da prova!!!! Como isso me deixa feliz!!!!Meu maior sonho é um dia fazer uma ultra com meu queridisssimo amigo Jefferson Maia...ainda vou consegui!!!!!
Em uma ultra de 24 horas ( lá na Bahia) já encontrei um cara cego ( Robertinho ). Ele é de Campinas e faz ultras " normais" ( corridas de 24 horas por exemplo) regularmente. Tem um guia que corre com ele sempre. Porém como a prova é muito longa, várias pessoas se revezam para poder acaompanhar o atleta.
Mais nada se compara a encontrar no meio da selva, numa prova de extrema dificuldade visto o terreno muito acidentado e outras "coisitas" mais ( cobra, onça, jacares etc etc etc...) uma pessoa com deficiência física.
Em Outubro de 2008 tive o prazer dessa vivencia! Encontrei na junglemarathon um atleta americano, sequelado de poliomelite. Seu nome: TERRY GREENELEY. Ele ja tentou fazer muitas maratonas mais não havia terminado uma ultra. Radicalizou e veio na Jungle Maraton em 2007, novamente não conseguiu terminar. Diante de sua frustação a organização ( na pessoa da Srª Shirley Thompson atentou para a questão da adaptação ( NÃO favorecimento) necessária quando presente uma pessoa com deficiência em qualquer desporto que permita sua inscrição. Devidamente organizada para receber este atleta a organização o convidou em 2008. Foi colocado um militar ( 1º Sargento Jerson Araújo ) para acompanhar o Terry por toda a prova, bem como o caminho foi um pouco diferente para ele ( apenas o suficiênte para adequar a sua deficiência). Enfim ele conseguiu terminar duas etapas ( a prova tem 6 etapas ). Exausto mais muito feliz ele promete voltar este ano e vai continuar voltando até completar todas as etapas. Ah, e a melhor: ele foi brindado com a presença de uma linda onça pintada!!! VERDADE!!!! ELE E O SARGENTO GERSON JURAM QUE DERAM DE CARA COM UMA DELAS!!! CARAS DE SORTE NÃO É??? Até porque parece que a onça gostou deles pois não fez nem um rosnado...até deu passagem!!!! Não é show de bola? ( ou de pernas, ou de moletas, sei lá) .
Sei que é SHOWWWWWWWW!!!!!
Apesar do militar ter ficado com ele toda a prova ele se comportou como um atleta de ponta: manteve-se o mais independente possível. Orgulhosamente, ele nao quis que as pessoas o ajudassem, e nao quis maiores concessões. Porém com a presença de um pacer ( apóio regulamentar muito utilizado em ultras maratonas ) ele pode ir devagar, e sem maiores riscos naturais da prova em si. Parabéns a Shirley pela atenção prestada ao atleta e ao nosso Terry: exemplo para todos nós não é não????
Vou ficar devendo um foto dele, pois durante a prova, no meio da selva sem chances tecnologicas né? Mais vou saber se alguém tem, se consegui solto pra voces.
Fecho essa postagem muito orgulhosa dessas 3 pessoas que servem de exemplo e marca cada vez mais nosso compromisso com o seguimento da pessoa com deficiência.
E.T: A Maria Rita não conseguiu terminar a Br. lesionou a panturrilha na altura do Km 80. A Norma concluio em 3º lugar entre as mulheres ( ver site da prova www.brazil135.com ) e o Terry conseguiu concluir 2 etapas da jungle ediçaõ 2008.
Volto em breve com mais assuntos ultras inclusivos!
Bjs, bjs, bjs
Jacque.