segunda-feira, 19 de janeiro de 2009

MInha primeira Maratona



Resolvi colocar no blog o relato de minha primeira maratona...La se vão alguns anos desde então!!!!E tantos outras maratonas a mais. E hoje, quando estou fazendo muinhas ultras relembro sempre daqueles momentos.

Espero que gostem.
Bjs.





MARATONA DO RIO.

CORRER, CORRER, SEM PARAR !!!

Por: Jacqueline Terto

Os momentos que antecedem o exato momento de largada sinalizam que nas próximas horas a emoção seria latente.
E foi assim que percorri os 42 Km e 195 mts ao largo da orla marítima na Cidade maravilhosa.
Cheguei ao Pontal no Recreio dos Bandeirantes ( local da largada ) vestida como verdadeira atleta ( afinal quem foi atleta jamais deixa de ser... eu pelo menos ensisto em assim manter-me).
O uniforme completo da SMEL ( agasalho, camisa, short e até as meias ) com cores alegres e vibrantes “ cor laranja “ causou já de entrada um impacto diante das demais corredoras.
Larguei na elite .
Elite é tudo de bom !!!
O clima esquenta...
O suor começa a brotar...
Ouço a contagem regressiva 10, 9, 8...0
Tiro de largada. Largamos...
Lá vamos nós, milhares de pessoas “ malucas “, ou melhor, ESPECIAIS, que partem com metas e objetivos próprios buscando alcança-los nos próximos 42 Kms.
Uns querem vencer, outros melhorar o tempo, alguns apenas largar e parar nos próximos 10, 15 ou 21 km, outros brincar e curtir o percurso e outros ainda apenas completar.
Meu objetivo é apenas um misto de tudo isso... ( simples não? ) o que dé é lucro !!!
Lá vou eu, feliz e orgulhosa...
No peito estampada a marca da Prefeitura e da Secretaria de Esportes...
No short a cor registradamente: laranjinha, abobrinha ou qualquer guloseima que lembre esse tom de cor.
Na alma a determinação de ir em frente... sem parar !!!
No entanto preocupa-me o fato de ter no período que antecede a prova apenas “ rodado “ ( termo utilizado em corridas de longas distâncias mais sem maiores compromissos com o ritmo ) e não ter treinado especificamente para a prova. Afinal entre uma coisa e outra ( “ rodar ou treinar “ ) existe uma vasta diferença !!!
A preocupação vem e passa ( rápido ) pois acredito que todos os percursos que fiz, ultrapassam em muito a quilometragem em pauta ( de volume eu estou bem , pensei, e o ritmo eu administro agora ! ).
Correr todos os dias de um núcleo para outro ( de Vidigal para Campinho, para SMEL, para Miécimo , para Pechincha, etc...etc... ufa !!! ) deu-me confiança para participar dessa maratona após longo tempo afastada dos circuitos de competição em provas de longa distancia nas ruas.
Sigo em frente e ainda feliz...
Passos firmes, respiração tranqüila,
Coração palpitante, mas nadinha de cansaço ( ainda... ).
Percebo as pessoas ao longo do percurso nos aplaudindo, bem como de vez em quando ouço pessoas com frases do tipo: vai Prefeitura !, olha lá a prefeitura !, Vamos lá garota César Maia! ...Acho graça...
Acho graça e fico bastante satisfeita... lembro de meu coordenador Valdênio, do nosso Secretário Ruy Cezar e do nosso Prefeito (eles gostariam de ouvir isso pensei).
Mais satisfeita fiquei quando já na altura do Km 22, alguém me “ canta “ informando que eu já era a 17ª colocada entre as mulheres.
Me animei, afinal só na elite havia 50, então eu estava entre as 50 ranqueada até aquele momento.
Continuo adiante... mais ainda sem maiores pretenções em termos de colocação, mas já “ antenada “ com a possibilidade de melhorar a minha colocação.
Subo a Niemayer sem o menor problema (o segredo é admirar o belíssimo visual e nada mais, ESQUECER TUDO E SUBIR !!! )
SEM PARAR...
Os Kms vão passando, o percurso começa a “ apertar “ e já não acho o visual tão belo assim ( na verdade começo a não percebe-lo pois muito sutilmente sinto uma “ picadinha ” não identificável em algum lugar próximo a minha lombar... não liguei muito ( devia ser já o cansaço chegando afinal...) !!!
Entre os Kms 30 e 33 percebo que está tudo bem, apesar da fadiga começar a dar e bom sinal pelo corpo ( mais ainda sem maiores dificuldades ).
Vou ultrapassando uma a uma as companheiras que encontro pelo caminho.
Encontro ainda colegas corredoras que vão me informando a ordem da prova ( quantas na frente, quem desistiu, se estão muito cansadas, enfim... )
Km 35 : faltam apenas 7 Km !!!
Alguém me diz que naquele exato momento sou a 9ª colocada...
Vibrei exultante : estava entre as 10 colocadas naquela maratona, e só faltava 7 Km para acabar.
Resolvo que está na hora de correr... porque não?
Quem sabe não daria ainda para ficar entre as 5 primeiras ?
Como disse no começo : o que dar é lucro.
E o lucro além do prazer em correr poderia ser ainda de subir no pódio !
E foi com essa idéia que parti para os últimos kms de prova.
Até que de repente, não mais que de repente, aquela picadinha na lombar que senti e não dei importância resolveu apresentar-se sem a menor cerimônia : veio com tudo, sem dó nem piedade, e, o que imaginei ser uma “ picadinha ” de nada transformou-se ferozmente em uma dor insuportável, profunda, cruel...
Imaginei naquele instante que estava fazendo um “ milhão e meio” de todas as lombalgias conhecidas, a impressão que dava é que todo o corpo das vértebras se comprimiam no mesmo momento, o que gerou a dor insuportável impedindo até mesmo de permanecer de pé, com a enervação do plexo lombar sacral atingida, toda a mecânica da marcha de membros inferiores ficou prejudicada, com isso, o rendimento já não era mais o mesmo...
Aliás, nem de longe era o mesmo !!!
Sinto que não consigo mais conter as lágrimas, e essas também sem cerimônia caem vertiginosamente...
Mais não paro...
Intercalo a corrida entre trote e passadas largas, ... sinto raiva...
Percebo um desespero se apoderando de meu coração com a possibilidade de não concluir a prova...
Ah, isso não...
A dúvida se apodera...
A razão manda parar, a emoção não deixa raciocinar e a determinação não deixa desistir...
Em meio a essa odisséia ( foram quase 3 kms assim ) ouço uma voz preocupada : algum problema colega ?
Quase ri com a pergunta.
Se não fosse a dor...
Sem olhar para a “ voz “ “ respondi “ que era nada, apenas estava morrendo !!! mas tudo bem, e só uma mortesinha de nada. Brinquei !
A “ voz “ aconselhou-me a parar, pois em se tratando de morte o melhor é não brincar !!!
Sem perceber, me vi respondendo:
- A prefeitura não para... eu sou a Prefeitura, não vê a minha camisa ?
E foi assim que olhei o dono da “ voz “ ( Almir, atleta de São Paulo ) que ao perceber ser inútil insistir na minha desistência, gentilmente prontificou-se a permanecer ao meu lado até o final da prova.
Entrei na reta final já sem perceber o que se passava...
Apenas precisava acabar... concluir.
Chegar!!!
Nesse últimos kms jurei que jamais faria outra maratona, confirmei o que pessoas normais falam : isso é coisa de maluco... MALUCO mesmo !!!
No entanto essa eu tinha que concluir, e assim, cruzei a linha de chegada sem nem mesmo saber como !
Lembro vagamente que ao término, uns milímetros após a linha de chegada meu corpo vai desmoronando lentamente, e já estendida percebo vários olhares preocupados próximo ao meu rosto... eram os médicos me socorrendo...
Perguntei apenas : ACABOU ?
E um coro de vozes responde :
- ACABOOOU !!!
- Que bom, consegui... não parei !!!
Retorno a consciência já no posto médico onde entre o vai e vem da equipe, percebo outros companheiros também sendo atendidos: todos sobreviventes de uma guerra ( pensei ). Essa foi a impressão que tive ao correr os olhos e ver tanta gente “ semi-morta “, mas, por estranho paradoxo aparentavam imensa felicidade...!!!
Escutei uma voz doce chamando pelo meu nome : “ Jacque “...!
Olhei na direção da voz e encontrei um par de olhos meigos e gentil preocupadíssimos comigo ( eu devia estar horrível ) quase ri da preocupação da amiga. Era a Valquiria, que viu-me sendo carregada de maca e foi conferir o fato! Assegurei-lhe que estava bem ( mas na verdade estava péssima!).
A doce “ Val “ não convencida permaneceu atenta até ter certeza que eu sobreviveria.
Sobrevivi.
Completei a Maratona do Rio com o tempo de 03’52”12. Cheguei na 27ª colocação geral feminina e ainda em 9º lugar na minha categoria (35 a 39 anos).
E feliz, contra todas as expectativas só tenho a afirmar que : o impossível é não correr de novo. Na próxima lá estarei eu : firme, forte e ...
Sem parar... sem parar !!!
( de preferência sem dor na lombar ).


Terto, Jacqueline é Profª de Educação Física, Psicóloga, Especialista em Educação Especial, Mestranda em Psicologia Social, Coordenadora Técnica do Núcleo de Educação Especial na Vila Olímpica da Maré (entre outros), e de vez em quando: Maratonista!!!

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